Lá para o fim

Já não frequento o café
Nem de subúrbio, nem de cidade:
A minha vida, agora, é
Uma bengala e a saudade.

Perdi interesse pela evasão.
O rodear-me de nova gente.
Ganhei o gosto por outro pão
Mais indicado para o meu dente.

Nenhuma escrita já é memória.
Já não me perco por qualquer lado.
Deixei o nome na sua glória.
Deixei o corpo no seu pecado.

Fluía o verso. Mas, hoje, estanca
Ante uma alma de austero porte.
Foi rosa rubra. É rosa branca.
Que imaculada lhe seja a morte.


Restos de Quase Nada e Outras Poesias (Averno 011)
CORPO SEM FACE

Habitei o teu corpo numa tarde
Dos finais do Estio,
Quando o Sol ainda arde
E o mar é já um arrepio.

Numa praia remota,
O teu corpo ondeou como o vento na duna.
Soltaste um grito de gaivota.
E afoguei-te em espuma.

Chegou a noite na Lua Cheia.
E a solidão de quanto faço
Pisou areia.
Galgou o espaço.



Ainda Não (Averno 032)